Sônia Moura ficou emocionada com a leitura da sentença pela juíza.
Pena de Macarrão foi de 15 anos por morte; Fernanda pegou 5, por cárcere.
A mãe de Eliza Samudio, Sônia Moura, se ajoelhou, chorou e disse estar “aliviada”, na noite de sexta-feira (23), no plenário do Tribunal do Júri de Contagem, em Minas Gerais. Ela deu a declaração logo após a juíza Marixa Fabiane Rodrigues confirmar a condenação de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, pela morte da filha. Para a Justiça, Eliza foi morta em junho de 2010. O corpo nunca foi encontrado.
Além de Macarrão, o júri condenou Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do goleiro Bruno Fernandes, por participação nas ações que resultaram na morte de Eliza, ex-amante do jogador.
O amigo do goleiro foi condenado a pena de 15 anos de prisão, sendo 12 em regime fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima), e 3 em regime aberto, pelo sequestro e cárcere privado. Ele foi absolvido da acusação de ocultação do cadáver de Eliza. Ao ouvir a decisão, Macarrão chorou.
Fernanda foi culpada por dois crimes de sequestro e cárcere privado – de Eliza Samudio e de seu filho, Bruninho. Ela foi condenada à pena de 5 anos, a ser cumprida em regime aberto.
Resultado esperado
A advogada Carla Silene, defensora de Fernanda, disse na madrugada deste sábado (24) que sua cliente já esperava ser condenada no tribunal. “Dentro do contexto que se apresentou, ela já esperava esse resultado”, declarou. “Ela não volta para cadeia.”
Carla adiantou que vai recorrer da decisão proferida pela juíza Marixa. “Assim como recorremos da pronúncia e ainda não transitou em julgado, vamos recorrer também deste julgamento”, disse.
Segundo a defensora, a ex-namorada de Bruno saiu do Fórum de Contagem com a “cabeça erguida”, apesar de “emocionalmente abalada”. A advogada ressaltou que a grande vitória de sua cliente ocorreu fora do plenário. Para Carla, o maior mérito neste caso para Fernanda foi não ter sido pronunciada pelo crime de homicídio.
Goleiro ‘não escapa’, diz promotor
Após o júri, na madrugada de sábado, o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro disse que “não há escapatória para ele [Bruno]”. “Tenho certeza que a pena para ele tem que ser uma pena significativa”, afirmou, fazendo uma comparação com a condenação de Macarrão.
O promotor disse estar “feliz com a decisão”. “O resultado foi conforme eu esperava”, afirmou. Castro ressaltou, no entanto, que não houve vitória, já que Eliza está morta.
Questionado sobre o que vai acontecer com o goleiro Bruno, que também é reu no caso, o promotor respondeu, que se Macarrão foi condenado, “é claro que a [sentença] do Bruno tem que começar por aí”.
O atleta vai ser julgado em Contagem no dia 4 de março de 2013, junto com o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e Dayanne Rodrigues, ex-mulher do jogador. Os três réus tiveram seu júri adiado.
Advogado quer confissão de Bruno
Para o advogado José Arteiro Cavalcante Lima, que representa a mãe de Eliza e foi assistente do promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, o goleiro Bruno deveria confessar sua participação no crime contra Eliza. “A melhor coisa para o Bruno é a confissão”, disse ele, no sábado.
Lima ainda disse que iria comemorar a sentença, após o fim do julgamento. “Agora eu vou comer macarrão”, declarou, em tom de deboche, enquanto deixava o Fórum de Contagem.
O assistente de acusação criticou a postura dos defensores de Bruno, que teve o júri adiado e vai ser julgado apenas em 4 de março de 2013. “O advogados dele não sabem trabalhar. Quem sabe sabe. Quem não sabe bate palma para quem sabe”, disse, referindo-se à condenação de Macarrão e de Fernanda.
Julgamento
Os jurados saíram do plenário em direção à sala secreta às 21h de sexta-feira, e voltaram depois de mais de duas horas.
Durante esse período, eles responderam a quesitos preparados pela juíza, com a concordância de advogados e do promotor.
Com respostas “sim” e “não”, os jurados decidiram se os réus cometeram o crime, se podem ser considerados culpados e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. Em seguida, a magistrada Marixa Fabiane redigiu a sentença.
O júri popular, que teve início com cinco réus, acabou com apenas dois acusados: Macarrão e Fernanda.
O jogador Bruno Fernandes de Souza, que era goleiro titular do Flamengo, é acusado de ter arquitetado a morte da ex-amante, em 2010, para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia.
Bruno, a sua ex-mulher Dayanne Rodrigues e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, tiveram o júri desmembrado pela juíza Marixa e serão julgados em 2013. (Acompanhe o dia a dia do júri popular do caso Eliza).
Crime arquitetado
Em sua decisão, a juíza Marixa afirmou que o crime foi uma “execução meticulosamente arquitetada” e que os acusados agiram com “perversidade” e que a culpabilidade é “acentuada”.
A juíza fixou a pena base de 20 anos contra Macarrão pelo homicídio, que foi atenuada por sua confissão. “Embora a confissão do réu seja parcial, ela encontra especial valor”, afirmou a magistrada, na sentença. “A admissão do réu de que realmente levou Eliza para o encontro com a morte foi de extrema relevância para tirar do conselho de sentença qualquer dúvida. Prestigio a sua confissão em plenário para reduzir a pena aplicada para o mínimo legal.”
A juíza disse que, mesmo antes do júri, tinha a convicção de que houve o crime com base na “prova indireta e que Eliza Samudio de fato havia sido brutalmente assassinada”. “No entanto, alguns advogados dos corréus, no seu regular exercício da defesa, semearam de forma exitosa a dúvida na mente de milhares de pessoas que, ao longo de dois anos e cinco meses, se questionavam e se perguntavam se Eliza Samudio estava realmente morta”, afirmou.
Quanto a Fernanda, a juíza entendeu que ela é primária e tem bons antecedentes, possui ocupação lícita e se dedica a trabalhos sociais, mas sua conduta é “altamente reprovável”.
“Embora fugindo do conhecimento de que o destino de Eliza era a morte, prestou inestimável auxílio aos demais envolvidos, não se preocupando com o destino daquela própria moça”, afirmou. “Seu sequestro foi o prelúdio de seu extermínio”.
‘Justiça na dosagem’
O promotor Henry Wagner de Castro afirmou, após a leitura da sentença, que a Promotoria não vai recorrer da pena “porque entende que houve justiça na dosagem”. Ele projetou possível pena para o goleiro Bruno, que ainda será julgado. “Se Macarrão pegou 20 anos pelo homicídio, é claro que a [sentença] do Bruno tem que começar por aí”, afirmou no plenário, ressaltando que “não há escapatória” para o goleiro.
A advogado de Macarrão, Leonardo Diniz, disse que “a defesa vai analisar oportunamente na semana que vem se vai interpor recurso”. Ele diz que vai analisar a dosimetria da pena, mas afirmou que “a defesa entende que foi uma vitória”.
Pedir a suspensão da juíza
O advogado do goleiro Bruno Fernandes, Lúcio Adolfo, disse, após a leitura da condenação de Macarrão, que cogita pedir a suspensão da juíza Marixa Fabiane. Ele diz que a motivação da ação é “por tudo que ela fez no processo” e por tê-lo impedido de entrar na sala secreta para acompanhar a votação dos quesitos pelos jurados.
Sobre a condenação do amigo de Bruno por sequestro, cárcere privado e homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio, Adolfo disse que agora vai estudar a defesa do goleiro. “Toda vez que você está uma trajetória, e essa trajetória muda, você tem que se adaptar. A partir de agora, o que vou fazer é estudar o caso e traçar uma nova estratégia”, relatou.
O crime
Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, a vítima foi entregue para o ex-policial Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado. O bebê Bruninho foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG).
Além dos três réus que tiveram o júri desmembrado, dois acusados serão julgados separadamente – Elenílson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, teve o processo arquivado.
Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais relata o medo que sentia.
Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.