Março bate recorde de demissões voluntárias no Brasil

Ao mesmo tempo em que milhões de brasileiros procuram um emprego e uma forma de quitar as dívidas, as empresas e as estatísticas oficiais registram um movimento que o mundo todo viu crescer desde o início da pandemia: trabalhadores que decidiram pedir demissão.

Carmén Pimenta é analista de marketing e acaba de começar em um novo emprego. Pediu demissão de onde trabalhava em busca de uma oportunidade melhor, com mais benefícios.

“Um salário maior era uma necessidade minha, para poder pagar minhas contas, mas só o salário não era o suficiente. Eu queria um lugar que eu pudesse ter um plano de carreira e que eu pudesse me capacitar, e aqui eles me deram essa oportunidade”, conta.
Ela agora faz parte da equipe de uma empresa de alimentação saudável para cães e gatos em Belo Horizonte. As duas sócias estão felizes com a nova contratada, porque ainda têm cinco vagas abertas e pouca gente interessada.

“Cada dia que passa a gente precisa de mais pessoas qualificadas que querem fazer a diferença. E encontrar pessoas que querem fazer a diferença está sendo a maior dificuldade”, diz a empresária Jeanine Sacchetto.

O analista de sistemas Juan Faria mora em São Gonçalo, no Rio, e pediu demissão depois de encontrar um novo emprego com maior comodidade, para trabalhar em home office. Ele estava insatisfeito com a vida corrida que levava de casa para o trabalho.

“Eu busquei uma empresa que eu senti que eu teria essa estabilidade que eu já tinha na anterior, mas também que eu tivesse qualidade de vida, para que eu pudesse, futuramente, quando eu tiver filhos, curtir o crescimento deles. Para que eu possa também, no horário que eu levaria no transporte, estudar, fazer um curso”, afirma.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do IBGE, mostram que tem aumentado o número de brasileiros que pensam como o Juan. Em janeiro, 554.191 pessoas decidiram abandonar seus trabalhos. Em fevereiro, foram mais de 560 mil. E março bateu um recorde: foram 603.136 demissões voluntárias no país.

A Associação Brasileira de Recursos Humanos, a ABRH, afirma que a pandemia mostrou aspectos que muitos andavam se esquecendo. O tempo para o lazer, o relacionamento com as chefias e as modalidades de trabalho em casa, agora, são mais levados em conta.

Mas a presidente da ABRH, Eliane Ramos, lembra que essa não é uma realidade para os quase 12 milhões de desempregados no país, que não têm outra alternativa. E que é preciso planejamento para pedir demissão.

“Não é pedir demissão de uma hora para outra, sem fazer planejamento prévio. Você tem que cuidar da sua carreira igual se fosse um trabalho. Você tem que ter todo um planejamento para o momento certo de você pedir essa demissão. Se você já não tiver esse plano B, essa outra empresa, essa outra recolocação já bem trabalhada, isso é claro”, explica.
Empreender: esse é o sonho de muita gente. Imagine depois de 15 anos de estabilidade e muita dedicação à profissão, uma enfermeira se tornar doceira. Essa é a história da Melina, que há três semanas abriu uma loja de doces. Ela estudou muito, fez muitas delícias na cozinha de casa, mas agora está rindo à toa.

A alegria de Melina é a prova de que ela não teve medo de mudar; depois de se preparar bem. A previsão é de faturar dez vezes mais. A loja já está fazendo sucesso.

“Saber estudar se realmente está saindo, se você consegue se manter com aquilo, quais serão as estratégias de venda para você alcançar mais clientes. Isso tudo eu vim trabalhando durante um ano. Chegou a minha vez de me dedicar a mim, a ter tempo para minha família, para os meus sonhos, para o meu negócio”, diz a doceira Melina Fernandes da Silva.

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